quarta-feira, dezembro 26, 2012

NATAL DE QUEM?


NATAL  DE  QUEM?  
  Mulheres atarefadas Tratam do bacalhau, Do peru, das rabanadas.  
- Não esqueças o colorau,   O azeite e o bolo-rei !   
- Está bem, eu sei !   
- E as garrafas de vinho ?   
- Já vão a caminho !  
 - Oh mãe, estou pr'a ver   
Que prendas vou ter.   
Que prendas terei ?  
- Não sei, não sei...   Num qualquer lado,   
Esquecido, abandonado,   O Deus-Menino   Murmura baixinho:   
 - Então e Eu,     Toda a gente Me esqueceu ?    
Senta-se a família   À volta da mesa.  
 Não há sinal da cruz,   Nem oração ou reza.  
 Tilintam copos e talheres.  
 Crianças, homens e mulheres   Em eufórico ambiente.  
 Lá fora tão frio,   Cá dentro tão quente !   
Algures esquecido,   Ouve-se Jesus dorido :    -
 Então e Eu,     Toda a gente Me esqueceu ?    
Rasgam-se embrulhos,  
 Admiram-se as prendas,   
Aumentam os barulhos   
Com mais oferendas.   
Amontoam-se sacos e papeis   
Sem regras nem leis.  
 E Cristo Menino   A fazer beicinho :    
- Então e Eu,     Toda a gente Me esqueceu ?
    O sono está a chegar.  
 Tantos restos por mesa e chão !  
 Cada um vai transportar   
Bem-estar no coração.   
A noite vai terminar   
E o Menino, quase a chorar:    
- Então e Eu,     Toda a gente Me esqueceu ?    
Foi a festa do Meu Natal   
E, do princípio ao fim,   
Quem se lembrou de Mim ?  
 Não tive tecto nem afecto !   
Em tudo, tudo, eu medito   
E pergunto no fechar da luz :  
 - Foi este o Natal de Jesus ?!!!  
 (João Coelho dos Santos - in Lágrima do Mar - 1996)  
 O meu mais belo poema de Natal