domingo, novembro 26, 2017

A Erva da Inveja

A Erva da Inveja (Vinca difformis) tem-se criado espontaneamente na Moura Morta em zonas humidas e sombrias junto a alguns poços.


Nome vulgar: Alcangorça; Alcongosta; Congorça; Congossa; Congossa-maior; Erva-concorça; Erva-congorça; Erva-da-inveja; Pervinca; Salva-da-inveja; Vinca. 
Família botânica: Apocynaceae. Nome científico: Vinca difformis.
Distribuição Geral: Sudoeste da Europa; introduzida como ornamental e subespontânea noutras áreas. Distribuição em Portugal: dispersa praticamente por todo o território continental.
Habitat: ruderal; rrnamental; sob coberto de bosques, em galerias ripícolas, em locais ensombrados e húmidos.
Floração: dezembro a junho.
 Características: Planta herbácea com caules prostrados ou ascendentes, até 2 metros de comprimento. Possui folhas persistentes opostas, ovadas a lanceoladas, sem pelos.
 A ausência de pelos nas margens, permite facilmente distinguir a Vinca difformis da Vinca major. As flores de cor azul pálido com um longo pedúnculo são solitárias, axilares, possuindo a corola segmentos obliquamente truncados. É muito ornamental, formando extensos tapetes, sendo usada como planta de cobertura do solo, debaixo de árvores ou arbustos.
 Também pode trepar muros ou acompanhar declives.
Apresenta baixa necessidade de manutenção - apenas uma poda drástica uma vez por ano para a renovação da folhagem. Multiplica-se por sementes, estaca ou divisão da ramagem enraizada.
De http://jardimautoctone.blogspot.pt/2014/05/erva-da-inveja-vinca-difformis.html

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Recordando Monsenhor Nunes Pereira

Padre Augusto Nunes Pereira 
Nasceu na Mata, pequena localidade à beira do rio Ceira, a 03 de Dezembro de 1906. A sua infância é passada entre esta aldeia e Fajão, onde frequenta a escola primária. O facto de seu pai ter sido uma escultor santeiro reconhecido, não deixou, por certo, de influenciar a atracção que, desde cedo, sentiu pelas artes. Foi ainda na escola primária que esculpiu na madeira, com um canivete, a primeira figura.  Minha mãe foi uma grande mulher. Tendo enviuvado cedo, ficou com uma casa de lavoura a seu cargo e, mesmo assim, conseguiu mandar-me para o Seminário, com dinheiro emprestado”.
Do contacto com a paisagem da Serra do Açor ficou-lhe a apetência por materiais como a madeira, os seixos e as torgas. Da vivência da aldeia, o gosto pela cultura popular. Durante vinte anos preparou as vinte e cinco tábuas que ilustram “Os Contos do Fajão”, de tradição oral.
Em 1977, em reconhecimento do valor da sua obra, abre ao público em Fajão um museu que lhe é dedicado.
 Entre 1919-1929 esteve no Seminário Maior de Coimbra. Nestes anos se forjou o padre, o artista, o jornalista e o estudioso que nunca mais deixaria de ser.
Terminado o curso e recebida a ordenação foi mandado para a paróquia de Montemoro-Velho, onde esteve de 1929 a 1935.
Em Coja (1935-1952), revelou-se a riqueza da personalidade de Nunes Pereira, estendendo-se a sua acção aos mais diversos domínios. A sua sensibilidade como artista e 2 talento de artífice foram amplamente colocados ao serviço da igreja como provam os altares, confessionários, pinturas a óleo da Igreja Matriz e frescos da sua autoria. A casa onde habitava, “A Casa do Pombal”, serviu para a promoção de actividades culturais. Nela, Nunes Pereira, o professor José Alves e o médico Dr. Santos Júnior (conhecidos pela “trempe”), facultaram à população cursos de música, desenho artístico e técnico e até ginástica.
 Nunes Pereira é nomeado pároco de S. Bartolomeu a 13 de Janeiro de 1952 e aí se manterá até se aposentar em 1980.
Passa a residir na Casa Paroquial , anexa à igreja, onde tinha o seu atelier, conciliando o exercício do seu múnus pastoral com um crescente interesse pelo cultivo das artes, desde a poesia à escultura, passando pelo desenho, pela aguarela, pelo vitral e sobretudo pela xilogravura, especialidade em que se viria a tornar possivelmente no melhor artista português da segunda metade do Séc. XX. A permanência nesta cidade permitiu-lhe um envolvimento mais directo com o meio artístico, tendo sido um dos fundadores do Movimento Artístico de Coimbra.
 Ainda residente em S. Bartolomeu (1980), manda construir uma casa na Portela do Mondego, periferia de Coimbra.
Em 1981, foi nomeado membro da Comissão de Arte Sacra e Conservador do Património Artístico da Diocese de Coimbra. Como Vigário Geral da Diocese durante a década de 70, dedicou-se ao estudo de monumentos em locais de culto e participou no inventário cultural de arte sacra.
Foi também nestes anos que desenvolveu de forma sistemática o trabalho de jornalista no “Correio de Coimbra”, em cuja redacção permaneceu durante vinte e dois anos,
Faleceu a 01 de Junho de 2001.

Caricaturou em em 1993 vários mouramortinos num almoço-convivio no Pego Negro.


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A Grande Verdade. Não se fez , não se faz nem ninguem vai fazer

Depois de uma semana intensa de debates sobre a floresta, a Profª Helena Freitas da Universidade de Coimbra deixa a sua sinopse...


- Temos uma “floresta” que é uma manta de pequeninos retalhos desordenados e incoerentes, sendo que 98% da manta é privada e o restante é propriedade do estado, mas o descuido é comparável.
- Temos uma política florestal intermitente, sob responsabilidade de uma entidade híbrida e inadequada, concentrada na capital, e não temos nos territórios a extensão técnica que o país precisa e reclama
- Temos uma vigilância da floresta que é mínima, e desajustada da realidade territorial e do esforço preventivo necessário

- Temos uma floresta que tenderá a regenerar com uma composição semelhante à previamente instalada - ou ainda mais degradada e mais susceptível ao fogo – e temos as populações disponíveis para converter a floresta numa composição diversa e resiliente, mas não têm apoio técnico para promover a mudança 
- Temos as comunidades rurais mais abandonadas e cada vez menos confiantes na ação do estado, e sobejam as razões para essa perda de confiança e expectativa
Helena Freitas

segunda-feira, novembro 13, 2017

Tragédias com os fogos florestais são evitáveis

Os incêndios só deixarão de ter consequências trágicas quando a limpeza das matas se tornar compensadora para os proprietários.

Muita gente falou (ou escreveu) sobre as tragédias recentes provocadas pelos fogos florestais e provavelmente todos os especialistas já se manifestaram. Não sendo especialista na matéria, vou, como cidadão, procurar acrescentar algo para que estes flagelos possam ser evitados no futuro.


Só que o inimaginável acabou de acontecer: um verão quente e seco, muita impreparação e fogos florestais com consequências trágicas, que encherão de remorsos os responsáveis pelo Estado. Mais de 100 mortos, mais de 1000 habitações destruídas, mais de 500 mil hectares de área ardida; até o “Pinhal de Leiria”, uma floresta de pinheiros (não eucaliptos), com mais de 700 anos de história, propriedade do próprio Estado, ardeu em mais de 80%.
Apesar da apatia inicial do Governo, por pressão da oposição e da opinião pública, foi criada no âmbito da Assembleia da República uma Comissão Técnica Independente (CTI) para a análise do problema e proposta de soluções. A publicação recente do respetivo relatório provocou grande agitação. Até o dinheiro, que dantes parecia não existir, o governo se apressou a arranjar: 400 milhões de euros para reconstruções e apoio aos lesados.

Perguntar-se-á, então, por que é que a floresta em Portugal está a arder tanto? São habitualmente referidas causas diversas, desde os interesses ligados aos “negócios” da madeira ou dos meios aéreos de combate, até às deficiências do sistema proteção civil, mas penso que não chegam para explicar o fenómeno. A razão de fundo é que no último meio século o “mundo rural” sofreu uma transformação profunda, que potenciou o desenvolvimento dos fogos florestais.
Até aos anos 60, as matas eram regularmente limpas, pois fazia parte do ciclo económico da vida dos que viviam nessas zonas. Os matos ou os resíduos da floresta não eram “lixo”; eram matéria-prima com múltiplas aplicações nas suas economias: caruma para acender o lume, mato para a “cama” dos animais, etc.

A partir dessa altura houve uma autêntica revolução. Primeiro, foi a debandada para os locais de emigração na Europa: França, Suíça, etc.; depois, foi a migração dentro do país, para as grandes cidades e também para as de média e pequena dimensão. Com este despovoamento acentuou-se o preconceito (dos políticos e dos media) contra o “mundo rural”: os que por lá ficaram são chamados “os populares”, em contraponto com os “cidadãos”, a viver nas zonas urbanas. Para os que saíram para o estrangeiro o estigma é ainda maior: em vez de serem “portugueses residentes no estrangeiro”, são “os nossos emigrantes”. Curiosamente, nunca se houve chamar emigrantes aos nacionais dos países tidos como importantes (americanos ou ingleses, por exemplo) que trabalham em Portugal.
É também revelador o ar punitivo habitualmente usado para com os proprietários que não limpam os seus terrenos florestais: que deviam ser castigados, sujeitos a multas pesadas, ou mesmo a cadeia. Ora, como as televisões têm mostrado, são em geral gente pobre, a viver no limiar da sobrevivência, com pequenas propriedades que são a base do seu sustento. Serem obrigados a limpar as matas sem disso tirarem qualquer provento roça o obsceno.

Que fique claro: os fogos florestais só deixarão de ter consequências trágicas quando as matas estiverem limpas, mas isso só acontecerá quando essa limpeza se tornar uma atividade compensadora para os proprietários.
Ora, os produtos da limpeza das matas e os resíduos florestais têm procura, para queima nas centrais de biomassa, que produzem energia elétrica. Trata-se, portanto, de energia renovável, tal como as barragens, os parques eólicos ou as centrais de painéis fotovoltaicos. Segundo dados de 2016, as centrais de biomassa existentes produziram cerca de 8% (!) da energia elétrica renovável, ou seja, 4,7% do total do país.
Há, contudo, quem seja contra as centrais de biomassa, por isso acarretar o envio para a atmosfera de grandes quantidades de CO2. Mas não será isso preferível a que (como acontece atualmente) muitos mais milhões de metros cúbicos de CO2 vão diretamente para a atmosfera, queimados pelos fogos? Além disso, apesar de as centrais de biomassa libertarem CO2 para a atmosfera, o balanço de emissões é nulo, uma vez que as plantas que deram origem ao combustível durante o seu ciclo de vida absorvem quantidades de CO2 que compensam as emissões.
Todavia, há um problema: as centrais de biomassa trabalham essencialmente com resíduos florestais (restos do abate de árvores, etc.), pelos quais pagam à volta de 30 euros por tonelada. Comparativamente, os produtos da limpeza das florestas (matos, etc.) têm menor poder calorífico e o custo da sua recolha é, em geral, mais elevado.
Portanto, para termos florestas limpas, essa limpeza terá de ser subsidiada, o que, segundo alguns entendidos, vai precisar de uns 60 milhões de euros anuais. Contudo, isto é uma ninharia, pois, segundo o relatório da CTI, os custos sociais dos incêndios no período 2000-2016 foram de mais de 6600 milhões de euros, ou seja, 400 milhões de euros por ano.

Cria-se então mais um imposto? Não será preciso, pois a União Europeia, atenta ao problema social associado aos fogos florestais, está disponível para subsidiar a limpeza das florestas, existindo já mecanismos no âmbito da Política Agrícola Comum (PAC).
Para que este processo tenha sucesso, deverá contudo ser criado um Sistema Nacional de Centros de Recolha de Resíduos Florestais (SNRRF), envolvendo o Governo, as câmaras municipais e as juntas de freguesia, nos quais será feita a sua classificação e preparado o envio às centrais de biomassa, que, obviamente, terão que ser muitas mais.
A foto da capa da edição de 17 de outubro deste jornal diz tudo: um homem muito desgastado, ar desiludido, em frente dos escombros da sua casa devorada pelo fogo. Isto não pode continuar!
Numa época em que se propagandeiam avanços civilizacionais no campo da igualdade, é altura de ser resolvida a mais chocante das desigualdades, a que separa o “mundo rural” do “mundo urbano”. Por uma questão de humanidade e de... decência.
A Opinião do Engº Pompeu dos Santos